38°57'35.77"N 8° 4'37.03"W

Sobre a Quinta da Mizarela

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A quem possa interessar,

As pessoas que habitam este vale onde se encontra a quinta da Mizarela resgataram-no de potenciais malefícios, causados por dezenas de anos de abandono dos seus antigos proprietários bem como das "autoridades" "competentes".
Agora, depois de tanto trabalho, amor e devoção em devolver a dignidade a edifícios construídos, bem como à memória das pessoas que os ergueram com tanto suor, respeitando a sua traça original e respeitando toda a envolvencia natural vêem-se confrontados com uma multa emitida pelo ICN que acha que na verdade estas pessoas produziram um atentado à Natureza.

Não encontro explicação para tanta cegueira mas parece-me que os seus dirigentes achando ter razão optam por punir em vez de ajudar a melhorar uma intenção inabalável de fazer melhor.

Conheço as pessoas que habitam este lugar da quinta da Mizarela e que tanto se têm esforçado em manter um tipo de vida que se articula perfeitamente com as aspirações da Natureza, que na verdade são as nossas e que na sua forma mais simples pretende albergar todos os seres que nela habitam, permitindo o seu desenvolvimento rumo a algo melhor do que aquilo que encontraram quando para lá foram.

Enquanto Permacultor, estou totalmente convencido de que as escolhas feitas por estas pessoas são íntegras e de uma vontade genuína de melhorar a vida do Todo.
Quer as técnicas quer a ética por detrás das escolhas feitas no sentido de possibilitar a permanência de pessoas neste espaço são claras, eco-sistémicas e regeneradoras tal como se pode observar se se pretender ver com olhos de ver o que ali se tem feito.

Atente-se às soluções encontradas e postas ao serviço das pessoas para que fosse possível o seu estabelecimento no local sem prejudicar a envolvencia.
Podiam ter requerido electricidade à rede ou a um gerador a gasóleo para lhes fornecer energia com a qual poderiam também avançar, mas dessa forma poriam em causa a natureza de reserva natural por necessária colocação de mais postes na paisagem ou simplesmente por poluir o ar e a tranquilidade do local. Podiam ter-se alijado da responsabilidade de encontrar melhores soluções para o Todo mas fizeram exactamente o contrário.
Apostaram em soluções financeiramente mais dispendiosas mas mais amigas do ambiente possibilitando o seu estabelecimento sem margem para devaneios consumistas apenas possíveis com soluções matriciais da economia da predação dos recursos que tem sido aquela cujo modelo impera, ainda.

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Tendo poucos recursos financeiros fizeram milagres na obtenção de energia a partir da água do ribeiro que atravessa a propriedade sem contudo por em causa a função eco-sistémica desse mesmo riacho e a sua interacção com o eco-sistema envolvente. Na verdade melhoraram esta função, melhorando assim o Todo.
Com a sua central de energia fotovoltaica completaram a função necessária de produção de electricidade com que têm vivido cerca de 12 pessoas em permanência no espaço.

Já no capítulo da floresta fizeram e continuam a fazer a reflorestação com espécies autóctones que dessa maneira tem possibilitado o regresso de animais, pássaros e mesmo plantas que de outra maneira já há muito haviam desaparecido.

Quer no capítulo da energia quer no capítulo da alimentação têm feito um trabalho notável que só os mais distraídos não conseguem vislumbrar mas que são óbvios e consistentes.

Às autoridades o Povo exige transparência de processos e clareza nas intenções não só porque é ele que financia como são elas próprias emanações da sua vontade colectiva.
É uma obrigação de todos o da preservação da possibilidade de evolução nos contextos actuais.
Às autoridades exige-se permanente estudo e desenvolvimento do conhecimento que seja posto ao serviço do Todo. Se julgam possuir esse conhecimento que na verdade é público então façam o favor de o partilhar com quem o pagou, pois é essa a sua atribuição.

Não é com actos de punição que vamos lá, é sim com actos de cooperação. Não há outra maneira. Essa que escolheram trilhar está condenada ao fracasso pois essa energia sendo velha não mais interessa a ninguém senão aos velhos do restelo, personificados em acções que aparentam servir apenas e só a obscuridade e a ignorância

Precisamos de todas as pessoas para melhorar os males que temos todos feito em conjunto à nossa casa, única e finita, a Terra. Sois vós quem escolhe como o querem fazer, eu por mim já escolhi.

Jorge Crespo
Permacultor

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